sábado, 28 de março de 2015

Fracções

"Saber o que é uma coisa não é o mesmo que saber como se sente uma coisa" - The Giver (O Dador de Memórias)

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Gostava de ter Tempo.

Precisava de conseguir não dormir.

Precisava de ter outra vida.

Precisava de tantas coisas para poder fazer tudo o que gostaria de fazer...

Mas como cada um tem um tempo limitado aqui, que por sua vez está ainda mais limitado pelos recursos que cada um tem direito, só agora consigo escrever.

Não me posso queixar, ao menos consegui.

Alguém pode não ter tido a mesma sorte ainda.

Ou pode nunca mais voltar a tê-la...

Mas não é sobre perdas que quero gastar a minha Fracção de Tempo hoje.

Quer dizer... até é, mas não directamente.

Apetece-me escrever sobre a perda do Verdadeiro Significado das coisas.

E sobre a forma como elas são sentidas.

Porque gostar delas não é efectivamente a mesma coisa que vivê-las.

Se fosse, não existiriam duas palavras diferentes.

Uma é de alguma forma mais superficial, mais pensada, ... Um Eco.

A outra é muito profunda, original, perdura.

É algo cru e impossível e bonito.

Um Sussurro Incessante que começa bem cá dentro e luta a cada segundo por se libertar por cada poro da pele para que o Mundo o possa ver e sentir e viver.

Eu tenho andado a gastar a minha Fracção de Tempo de forma errada.

Não tenho vivido.

Pelo menos não para mim.

Tenho andado apenas por aí, de forma artificial, a tentar chegar às expectativas dos outros.

Esse não sou eu.

Nunca fui.

Não quero ser.

Estou-me a borrifar para o pensam de mim, para aquilo que querem que eu faça.

Porque na realidade o Mundo não manda em mim.

Eu faço realmente o que Eu quero.

Dentro da minha Fracção de Tempo e dos Recursos a que tenho direito, claro.

Oh!...

Mas o que eu tenho direito é o que me tem impedido de viver nos últimos tempos...

Parece que afinal o Mundo manda em mim...

Estou destinado a algo que não me compete decidir...?

Será melhor assim?

Provavelmente não saberei fazer as melhores escolhas para mim.

Isto porque quando as pessoas têm liberdade de escolha, fazem as escolhas erradas.

Sempre.

No entanto, a realidade é que a alegria e a felicidade me foram retiradas.

Pelo menos no seu estado mais cru e impossível e bonito.

Alguém deveria querer livrar-se disso.

Não sei porquê, mas é uma questão para outro dia.