quinta-feira, 13 de agosto de 2020

Abandonado

 Sou um gajo jovem em idade, mas gosto de pensar em mim como mais "experienciado" em espírito.

Já alcancei muitas coisas na minha vida, e orgulho-me da maior parte delas. Não com vaidade, mas com genuíno pensamento de que contribuí com coisas para o bem dos que me rodeiam.

Não necessariamente o meu bem, por norma sou mais altruísta do que egoísta, mesmo que nem sempre isso transpareça para fora.

O fim que as minhas ações atingem tendem a ser para o bem dos outros em primeiro lugar.

No meio dos meus vários caminhos, conheci muita gente.

Mas pouca gente me conheceu.

Neste momento parece mesmo que ninguém me conhece até. Eu inclusive.

Tantas centenas de pessoas amigas, tanta tanta gente que me reconhece...

... e, contudo, aqui estou, a meio da noite, sozinho. 

Sozinho como nunca me senti.

Peço ajuda, chamo por alguém, e ninguém me responde.

Fiz tanto por tanta gente, e agora vejo-me desamparado.

Devia ter sido mais egoísta? É assim que o mundo funciona?

Se tentas ser o bem que o mundo claramente precisa, se tentas ser uma fonte de humanidade no meio de tantos tiranos, és deitado a uma vala, para desobstruir o caminho do progresso, aquele progresso que tem base nas tuas ações?

Não passo de um pedaço de rocha abandonado no meio de um mundo a arder.

Espero que a rocha não arda também, neste novo mundo (ainda pior que o que conhecia) que os meus olhos desnudados começam a descobrir.

quarta-feira, 12 de agosto de 2020

Devaneios Hipócritas

 É tarde...

Preciso de dormir, amanhã é dia de trabalho...

Contudo, a minha mente não desliga. Não é possível que tal aconteça.

Nunca me senti tão perdido.

Uma lágrima corre-me pela cara, e eu não sei porquê.

Não a chamei, não a guardei para mais tarde, não lhe dei autorização para se soltar.

E, no entanto, ela aqui está. E tem amigas a querem segui-la, a pedir que a gravidade as liberte da prisão onde elas passam meses e anos à espera de um momento como agora.

Não faz sentido algum.

Sou assim tão egoísta? Ao ponto de querer receber e não poder dar de volta?

Magoa-me assim tanto saber o quão dispensável sou nas vidas com que me cruzo?

E ao mesmo tempo, quem as dispensa em primeiro lugar sou eu?

Mas que hipocrisia é esta?

Eu não sou assim. Nunca fui.

O mundo não roda à tua volta.

Quem é este desconhecido que habita dentro de mim?

De onde vieste? Quem te permitiu tomar o controlo do meu corpo e deixar-me neste canto a observar apenas?

Ao menos deixa-me desligar, dormir eternamente.

Não me faças assistir a este monstro em que me tornas.

sexta-feira, 7 de agosto de 2020

Controlo Perdido

É uma treta quando perdes o controlo.

Quando a pessoa alegre, viva e com determinação de antigamente se perdeu para sempre, e te tornas numa casca falhada, só com o que não gostas por dentro.

Quando o controlo é tão pouco, a única coisa que vês é a tua vida a ficar mais pequena.

Um pouco mais pequena, insignificante a cada dia que passa.

Nem te apercebes da pequena caixa em que estás fechado... até que o alguém de antigamente decida ressurgir das cinzas e te tire cá para fora.

Mas esse alguém não vai renascer, a fénix é um pássaro mítico, não existe de verdade.

E portanto, o que está morto, morto ficará.

Por mais força que tenhas, por mais forte que alguém seja, a caixa vai ficar bem fechada no seu sítio...

E tu?

Lá dentro, a perder os últimos bocadinhos de controlo que restam, enquanto a vida se desfaz à tua frente.

E podes chamar por ajuda à vontade, ninguém te ouve.

E se ouvem, ignoram.

Não sei o que resta quando a vida se torna invisível no fim de contas, mas suponho que irei descobrir daqui para a frente.

Sozinho.

Às escuras...

... Este mundo é uma treta.

domingo, 26 de julho de 2020

Ver o Mundo

Faço parte daquela percentagem da população que sofre de problemas oculares, o que me faz normalmente ver mal ao perto e ao longe a toda a hora.

Contudo, devo sofrer um tipo de defeito qualquer ainda sem nome que me faz ver sempre o mundo de forma especial...

Os últimos tempos da minha vida têm tido montes de coisas positivas, apesar de todo o azar que me acompanha constantemente, e apesar disso cada vez me sinto mais e mais em baixo.

Gosto de tentar lutar contra a mágoa e o negativismo à minha volta, porque é algo que naturalmente cresce sem necessidade de intervenção.

Contudo, nem sempre é possível, e o destino não está do meu lado. Em vez disso decide que o causador da mágoa tenho que ser eu, mesmo não querendo, e isso parte pedacinhos de mim a cada momento que passa.

Não digo que esse é o único motivo para só me apetecer ficar sentado aqui no tapete sem me mexer, mas nos últimos tempos tem sido a causa maior.

E com isso, entro num ciclo infinito de ansiedade crescente, em que mais mágoa cresce em mim por fazer aparecer mais mágoa à minha volta, o que me faz ficar mais em baixo, e por aí fora.

É uma péssima sensação de estar, e acho que o meu problema sem título tem um efeito secundário, de fazer com que eu próprio deixe de me conseguir ver a mim mesmo decentemente.

Sinto-me perdido, não sei quem sou, não sei o que estou a fazer, não sei porque estou assim, nem o que se passa de errado comigo.

E o pior, é que perdi o condão de conseguir ver através disso tudo, e todo este cocktail está a dar comigo em louco, mais ainda do que a loucura que sinto nos últimos meses e me tiram o sono.

Sinto-me a entrar num buraco negro, com os seus tentáculos pegajosos a agarrarem-se a cada pedaço de mim, sem nunca largar, e não vejo uma forma de me soltar.

Vou continuar a remar para sair dele, tentando que os meus olhos e os seus problemas não sejam uma peça essencial no caminho que me aguarda...

Espero mesmo não estar demasiado envolvido neste caos...