domingo, 3 de abril de 2022

Está Para Vir

 Não sei ao certo o que me trouxe aqui hoje de novo.


Há já algum tempo que não sinto nem a vontade nem a necessidade de escrever e desabafar, mas algo hoje me deu uma faísca para aqui voltar, e passar algum tempo a refletir sobre este Mundo em que vivemos.


Não sei se foi do filme que acabei de ver, se do trabalho em que estive hoje, ou se simplesmente foi o tempo desde a minha última visita aqui, mas o que é certo é que senti um magnetismo mais forte hoje, e aqui estou.


Nesse mesmo filme, algum dos personagens disse uma frase que me deixou a pensar. Não sei ao certo como era, mas envolvia algo parecido com: "O que é certo é que o melhor ainda está para vir.".


Mas está? Isso é certo desde quando?


Quem é que me garante que o melhor já não passou? Ou que estamos a vivê-lo agora mesmo?


O ser humano é um animal estranho, e somos maus connosco mesmos, portanto não tenho assim tanta certeza de que essa afirmação é assim tão correta, gajo do filme cujo nome acho que era Marc.


Mas deixaste-me a pensar. E se o melhor não está para vir? Porque não haveremos nós de fazer com que, caso não esteja no futuro, possamos ter o melhor agora mesmo?


Contra mim falo, obviamente.


Há... quê? ... mais de um ano que não vinha aqui? Tanto que se passou desde aí, tanto para o bom como para o mau. Tanto que pode ainda melhorar, e tanto que provavelmente não voltará a ser tão bom no futuro.


Novos empregos, novas posses, novos sonhos, novas pessoas, novos estados de espírito. E, contudo, tanta coisa continua menos bem.


Os problemas de sempre, mantêm-se, apesar de agora saber qual é a sua fonte e a estar a tentar atacar lentamente. A solidão, ainda que muito menos potente, continua por aí...


Enfim... os problemas mantêm-se, as fontes deles é que foram identificadas. Mas isso não os resolveu.


E alguma vez irá resolver? Quem me garante isso?


Tanto quanto sei, os problemas irão manter-se, ou então simplesmente tornar-se noutros, e nunca vamos estar verdadeiramente bem. Não como antigamente, mas antigamente éramos crianças, e a esse tempo não voltamos.


Hoje vou dormir com o pensamento de que irei tentar fazer com o que o melhor ainda esteja para vir, como tu disseste, Marc, mas não ficarei a espera que isso seja daqui a meses ou anos.


Vamos apontar lá para a próxima semana, pode ser? Depois logo se vê.

quinta-feira, 13 de agosto de 2020

Abandonado

 Sou um gajo jovem em idade, mas gosto de pensar em mim como mais "experienciado" em espírito.

Já alcancei muitas coisas na minha vida, e orgulho-me da maior parte delas. Não com vaidade, mas com genuíno pensamento de que contribuí com coisas para o bem dos que me rodeiam.

Não necessariamente o meu bem, por norma sou mais altruísta do que egoísta, mesmo que nem sempre isso transpareça para fora.

O fim que as minhas ações atingem tendem a ser para o bem dos outros em primeiro lugar.

No meio dos meus vários caminhos, conheci muita gente.

Mas pouca gente me conheceu.

Neste momento parece mesmo que ninguém me conhece até. Eu inclusive.

Tantas centenas de pessoas amigas, tanta tanta gente que me reconhece...

... e, contudo, aqui estou, a meio da noite, sozinho. 

Sozinho como nunca me senti.

Peço ajuda, chamo por alguém, e ninguém me responde.

Fiz tanto por tanta gente, e agora vejo-me desamparado.

Devia ter sido mais egoísta? É assim que o mundo funciona?

Se tentas ser o bem que o mundo claramente precisa, se tentas ser uma fonte de humanidade no meio de tantos tiranos, és deitado a uma vala, para desobstruir o caminho do progresso, aquele progresso que tem base nas tuas ações?

Não passo de um pedaço de rocha abandonado no meio de um mundo a arder.

Espero que a rocha não arda também, neste novo mundo (ainda pior que o que conhecia) que os meus olhos desnudados começam a descobrir.

quarta-feira, 12 de agosto de 2020

Devaneios Hipócritas

 É tarde...

Preciso de dormir, amanhã é dia de trabalho...

Contudo, a minha mente não desliga. Não é possível que tal aconteça.

Nunca me senti tão perdido.

Uma lágrima corre-me pela cara, e eu não sei porquê.

Não a chamei, não a guardei para mais tarde, não lhe dei autorização para se soltar.

E, no entanto, ela aqui está. E tem amigas a querem segui-la, a pedir que a gravidade as liberte da prisão onde elas passam meses e anos à espera de um momento como agora.

Não faz sentido algum.

Sou assim tão egoísta? Ao ponto de querer receber e não poder dar de volta?

Magoa-me assim tanto saber o quão dispensável sou nas vidas com que me cruzo?

E ao mesmo tempo, quem as dispensa em primeiro lugar sou eu?

Mas que hipocrisia é esta?

Eu não sou assim. Nunca fui.

O mundo não roda à tua volta.

Quem é este desconhecido que habita dentro de mim?

De onde vieste? Quem te permitiu tomar o controlo do meu corpo e deixar-me neste canto a observar apenas?

Ao menos deixa-me desligar, dormir eternamente.

Não me faças assistir a este monstro em que me tornas.

sexta-feira, 7 de agosto de 2020

Controlo Perdido

É uma treta quando perdes o controlo.

Quando a pessoa alegre, viva e com determinação de antigamente se perdeu para sempre, e te tornas numa casca falhada, só com o que não gostas por dentro.

Quando o controlo é tão pouco, a única coisa que vês é a tua vida a ficar mais pequena.

Um pouco mais pequena, insignificante a cada dia que passa.

Nem te apercebes da pequena caixa em que estás fechado... até que o alguém de antigamente decida ressurgir das cinzas e te tire cá para fora.

Mas esse alguém não vai renascer, a fénix é um pássaro mítico, não existe de verdade.

E portanto, o que está morto, morto ficará.

Por mais força que tenhas, por mais forte que alguém seja, a caixa vai ficar bem fechada no seu sítio...

E tu?

Lá dentro, a perder os últimos bocadinhos de controlo que restam, enquanto a vida se desfaz à tua frente.

E podes chamar por ajuda à vontade, ninguém te ouve.

E se ouvem, ignoram.

Não sei o que resta quando a vida se torna invisível no fim de contas, mas suponho que irei descobrir daqui para a frente.

Sozinho.

Às escuras...

... Este mundo é uma treta.

domingo, 26 de julho de 2020

Ver o Mundo

Faço parte daquela percentagem da população que sofre de problemas oculares, o que me faz normalmente ver mal ao perto e ao longe a toda a hora.

Contudo, devo sofrer um tipo de defeito qualquer ainda sem nome que me faz ver sempre o mundo de forma especial...

Os últimos tempos da minha vida têm tido montes de coisas positivas, apesar de todo o azar que me acompanha constantemente, e apesar disso cada vez me sinto mais e mais em baixo.

Gosto de tentar lutar contra a mágoa e o negativismo à minha volta, porque é algo que naturalmente cresce sem necessidade de intervenção.

Contudo, nem sempre é possível, e o destino não está do meu lado. Em vez disso decide que o causador da mágoa tenho que ser eu, mesmo não querendo, e isso parte pedacinhos de mim a cada momento que passa.

Não digo que esse é o único motivo para só me apetecer ficar sentado aqui no tapete sem me mexer, mas nos últimos tempos tem sido a causa maior.

E com isso, entro num ciclo infinito de ansiedade crescente, em que mais mágoa cresce em mim por fazer aparecer mais mágoa à minha volta, o que me faz ficar mais em baixo, e por aí fora.

É uma péssima sensação de estar, e acho que o meu problema sem título tem um efeito secundário, de fazer com que eu próprio deixe de me conseguir ver a mim mesmo decentemente.

Sinto-me perdido, não sei quem sou, não sei o que estou a fazer, não sei porque estou assim, nem o que se passa de errado comigo.

E o pior, é que perdi o condão de conseguir ver através disso tudo, e todo este cocktail está a dar comigo em louco, mais ainda do que a loucura que sinto nos últimos meses e me tiram o sono.

Sinto-me a entrar num buraco negro, com os seus tentáculos pegajosos a agarrarem-se a cada pedaço de mim, sem nunca largar, e não vejo uma forma de me soltar.

Vou continuar a remar para sair dele, tentando que os meus olhos e os seus problemas não sejam uma peça essencial no caminho que me aguarda...

Espero mesmo não estar demasiado envolvido neste caos...

segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Como Derreter o Gelo

Acho que não gosto de montanhas-russas.

Não posso afirmar isso com certeza porque nunca experimentei andar numa, mas acho que consigo imaginar a sensação.

Andar devagar, depois depressa demais, a seguir parar repentinamente, ficar virado ao contrário, fazer espirais e dar mortais...

Parece-se demasiado com a minha Alma neste momento: se hoje é segunda-feira, parece que trago comigo o cansaço de sexta; se hoje é quinta-feira, na minha cabeça sinto que ainda só é terça...

Tudo está trocado, não sei se hei-de rir, se hei-de chorar, bater com a cabeça numa parede até alguma coisa acontecer, explodir e simplesmente levar tudo à frente... Não sei...

Já não sei para onde me virar, não sei como poderei voltar a ganhar controlo como antes tinha...

A única vontade que tenho é ficar aninhado na cama até o corpo me doer de não me mexer, mas como é óbvio isso não é opção.

Não sei quando fiquei tão sensível ao mundo à minha volta, mas sei que nos últimos tempos qualquer coisa que veja (um filme, uma atitude, qualquer coisa), isso provoca uma reação quase incontrolável em mim de ou quase deixar fluir lágrimas pela cara abaixo ou ter um ataque de fúria ou simplesmente tentar fugir da situação.

Eu não sou assim.

No entanto, essa tem sido a minha vida.

Sinto que passo os dias a queixar-me e também não gosto disso.

Vejo as coisas à minha volta, e não consigo agir, apenas reajo (e nem sempre).

Esta apatia começa a tomar conta de mim, e eu não quero isso, mas também não encontro a faísca em mim capaz de fazer deflagrar a chama.

Tornei-me um cubo de gelo que nunca derrete.

Em vez de fogo interior, criei o oposto, e não sei como voltar atrás.

Continuo a tentar? Tento de outras formas? Paro por completo?

Quem me dera saber...

terça-feira, 10 de setembro de 2019

Amantes e Lutadores

It's a war. This life. The things we endure. [...] The future [...] is an apocalypse. Who survives that? The lovers or the fighters? They tell us this lie that love's gonna save us. All it does is make us stupid and weak. [...] Love isn't gonna save us. It's what we have to save. The pain makes us strong enough to do it. All our scars, our anger, our despair... It's armor. - Legion

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 Uma espada.

Uma parede.

Eu.

Três entidades bem distintas, que quando organizadas de uma determinada forma, resumem o que sinto atualmente.

Olho em volta, e vejo velhos amigos a crescer, muito além da nossa (supostamente) ainda tenra idade.

Casamentos, filhos, empregos estáveis...

Quando é que o tempo começou a andar a esta velocidade? Serei eu a ficar para trás? Ou eles a acelerarem demais?

E o que aconteceu às ligações de outrora? E à facilidade com que elas se criavam e mantinham?

Bah...

É uma grande trapalhada, esta vida adulta, e nunca ninguém me disse com antecedência... Ou se calhar disseram, mas nenhuma medida de tempo é suficiente para nos prepararmos de verdade.

Estes últimos anos, passei-os sozinho, como um lutador, a impedir que esta guerra que domina o mundo chegasse até mim, depois de todos os episódios que vivi, e me despedaçaram.

Mas agora, pensando bem no assunto, questiono-me se não foi a guerra que me passou completamente ao lado, e me deixou a lutar com um boneco de palha, só para me enganar.

E agora que olho em volta, e vejo toda a gente a recolher os despojos da guerra, procuro pelos meus, e nada encontro.

Nem sequer uma amostra, uma ilusão. Nada que indique que eles existem, ou alguma vez existiram sequer.

A dor ataca, e surge de dentro de mim, mas em vez de me fazer forte, como antes achava que estava a fazer, ameaça empurrar cada vez mais a espada contra mim, que estou de costas para a parede.

As cicatrizes doem.

A raiva morreu há muito ou está focada noutras guerras que surgirão em breve.

O desespero já passou também.

A armadura começa a pesar demais, e eu estou fraco dentro dela.

Achava que iria salvar o mundo de alguém nesta guerra...

Agora pergunto-me se não serei eu a precisar de ser salvo...

quinta-feira, 16 de maio de 2019

Sem Amor, Eu

"When you were little, you were so carefree...
But these last few years, more and more, it's almost like I can feel you holding your breath. [...]
There are parts [...] that you have to go through alone. [...]
But you get to exhale now..." - retirado de Love, Simon

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É uma treta quando passamos os dias a suster a respiração.

Acordamos a achar que vai ser melhor, ou no mínimo igual a ontem, e na realidade o peso do vazio adensa-se, mais e mais, e a respiração parece que deixa de ter um fundo.

Por mais que se inspire, nunca se fica verdadeiramente preenchido, e parece que estamos a sufocar ligeiramente.

Só que pior, porque essa sensação na realidade não me acontece nos pulmões.

Acontece algures noutro sítio onde não dá para chegar, e que nunca fica verdadeiramente preenchido, e que pesa mais e mais a cada dia que passa.

E eu ando a arrastar isto há tanto e tanto tempo que já não sei o que mais fazer.

Estou sozinho a lidar com isto, e nunca mais consigo expirar, libertar esta merda desta sensação.

Eu juro que tentei, tentei mesmo, expus-me como achei que não iria fazer mais, e ao fazê-lo trouxe à tona todas estas tretas que tinha enterrado há tantos anos...

E agora, por mais que ignore, chega uma altura da semana em que a sensação espicaça um pouco mais, e me relembra que estou nesta casa sozinho, a morar há ano e meio, sem ninguém com quem verdadeiramente partilhar o meu dia e a minha vida, e este silêncio mata-me.

O silêncio de ter a televisão desligada, e só conseguir ouvir o relógio a contar os segundos sem parar, a madeira a estalar, os aparelhos com estática...

E a minha respiração... sozinha... e presa, sustentada a meio... sem ninguém para me ajudar a terminá-la...

Se tu, que estás a ler isto, souberes como me ajudar, por favor diz-me.

...

Vou dormir por hoje.

Pode ser que amanhã seja um dia menos mau.

quarta-feira, 8 de maio de 2019

Carma Sem Sentido

Sabem o que há de pior quando um dilema existe e persiste?

É quando esse dilema ganha um dilema próprio, e de repente temos ramos e ramos de possibilidades para prosseguir o caminho, e todos eles vão parar a cantos mais escuros que o atual...

É.

Acho que os meus "problemas" ganharam "problemas" próprios.

Depois da última vez que aqui escrevi, disse que sinto falta de um suporte na minha vida, que não faço ideia se existe algures por aí sequer.

E para não ficar de braços cruzados, optei por tentar a minha sorte, e procurar um pouco nas redondezas.

Achei que tinha encontrado.

Os avanços pareceram ter iluminado um pouco o trilho que percorria.

Mas não.

A vida prega rasteiras quando menos se espera, e no mesmo dia todos os pingos de esperança são desfeitos e a pequena luz que parecia existir era só a que estava dentro de mim a quebrar-se.

Posso dizer com um pouco mais de certezas que não existes.

Ou que eu não fui feito para isso.

Tenho um destino traçado, e é continuar nesta solidão infindável.

Sou assim tão detestável?

Quanto mal fiz eu para receber este Carma?

Sou uma pessoa resistente, mas começam a haver alguns limites passados tantos anos.

Custaria assim tanto ter alguma coisa boa de vez em quando?

Mereço assim tão pouco?

O que consigo eu fazer com o que tenho, além de me encolher a um canto e abraçar os meus próprios joelhos até que algo faça sentido?

Sinto-me cada vez mais solitário, e mesmo eu, que gosto de ter o meu espaço e o meu tempo, começo a sentir que é demais...

Se é para isto que estou a viver, que sentido faz?

Pergunto com genuína curiosidade.

Porque para mim já não faz sentido.

Tento dar coisas boas ao mundo, compensar as falhas que às vezes (como tudo o que é humano) tenho.

E recebo coices e pontapés em troca?

Rejeição infinita?

Silêncio como resposta?

Que mal te fiz eu, Mundo?