terça-feira, 15 de março de 2016

Algos e Alguéns

Já não tinha memória de um dia que me corresse tão mal como o de hoje.

Acho que esse é um dos maiores erros que o ser humano possui: falta de memória.

Lembramo-nos de tudo, se for preciso, quer seja da cor do carro que passou pelo cruzamento hoje de manhã, ou até do número de escadas que usámos ao longo do dia.

No entanto nunca nos lembramos do quanto dói gostar a sério de algo.

E algo não é necessariamente alguém.

Mas também não exclui que seja alguém.

Os Algos e Alguéns deste mundo são mesmo complicados de lidar.

E eu esqueço-me disso vezes demais.

E depois fico assim.

A queixar-me.

Sem conseguir ir dormir.

A sofrer de novo.

A sentir demasiado.

Fernando Pessoa disse uma vez que "Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir."

E acho que foi por isso que vim aqui parar, e que agora estou a desabafar para aqui.

Mas não sinto a febre a passar.

Sinto-me cada vez mais doente até.

Só quero desligar-me de tudo.

Quero ir dormir.

Quero parar de ver isto tudo à minha volta.

Não quero mais sentir.

Onde está o interruptor?

segunda-feira, 7 de março de 2016

Venenos

Estou deitado há já um bocado.

A olhar para o tecto.

A olhar para os lençóis.

Agora fecho os olhos.

Só vejo escuridão.

Sinto coração a bater, forte e rápido, o que não devia acontecer.

Devia estar a bater calmamente, pronto para me deixar adormecer.

Ou então devia estar parado, para combinar com O Meu Ser.

Nada me deixa adormecer.

Consigo ouvir a chuva a bater na minha janela, a fazer uns estalidos, que em qualquer outro dia seriam relaxantes.

Mas não hoje.

Hoje existe um tristeza alojada no meu peito.

Apercebi-me dela mais cedo, mas ignorei, porque já a tive antes e sobrevivi.

Mas quando me deitei, observei-a melhor, e tentei libertá-la do peito, para ver se ficava mais confortável.

Foi uma má decisão.

Consegui soltá-la, mas agora corre-me pelo corpo, como um veneno no meu sangue.

Sinto-a a espalhar-se.

Por mim.

Pelo meu quarto.

Pelo Mundo.

Pela minha vida.

Quero adormecer.

Preciso de quebrar estas sensações.

Mas não estou a conseguir...

Acho que vou levantar-me.

Adiantar coisas para de manhã.

Aliás, para daqui a bocado, que é quando vou acordar.

Sim, vou acordar daqui a pouco apenas.

Porque agora não me sinto acordado, apesar de ter os olhos abertos.

Mas não há nada que possa fazer.

Um novo dia vai começar.

E lá estarei eu, pronto para ele.

Acordado.

domingo, 6 de março de 2016

Tudo É Imaginário, Menos A Dor

Não sei o que pensar.

Não sei o que fazer.

...

Não me apetece dormir, mas também não quero ficar acordado.

Quero ver um filme, mas não tenho vontade de ficar duas horas a olhar para o ecrã.

Não quero ficar a ver a televisão, com os seus programas da treta, mas também não me apetece continuar a ler o livro...

Tudo por causa do Amor.

O Amor e as suas regras estúpidas.

Por que é que nunca nada pode ser "bom demais" para ser verdade, e manter-se assim?

Por que é que tem sempre que se bater com a cabeça numa parece, ou tropeçar num obstáculo e não haver mais possibilidade de nos levantarmos?

Como é que me deixei apanhar assim pelo Amor?

Achei que já tinha aprendido a lição.

Foi por isso que fiquei estes últimos quatro ou cinco anos sem ninguém.

Mas não, tinha que vir esta seta do Cupido, acertar-me mesmo em cheio, trazer esta alegria e esperança toda, e agora tirar-me tudo.

...

Já não sei o que sinto.

Não sei se estou vivo ou morto.

Já não estava habituado a ter parte de mim, cá dentro, deitado abaixo.

E a realidade é que nada acabou ainda.

Primeiro, porque nada começou a sério.

Segundo, porque ainda há esperança, por muito reduzida que ela seja.

As probabilidades de ultrapassar isto são baixas, e eu não acredito que consigas aceitar a situação.

Quero acreditar, vou-me esforçar para nos ajudar a ultrapassar isto, mas lá no fundo, no fundo, não sei se irá acontecer...

...

Espero estar enganado.

Vou ver se encontro um Cupido de outro tipo.

Um que me faça estar enganado quando me acerta com a sua seta.

Vou demorar um bocado.

Se desaparecer, a culpa é do Cupido.

A culpa é dele, por não existir.