Não sei o que tem sido a causa, mas tenho a certeza que a Natureza tem estado por detrás de tudo.
Qual Natureza ao certo, eu também não sei, mas uma delas deve ser. A Mãe Natureza, gentil e implacável, ou talvez a Natureza Animal, governada pelos instintos e irracional, ou quiçá a própria Natureza Humana, consciente e persistentemente em sofrimento.
O que eu sei é que ela fez o seu trabalho mais eficiente: o de encontrar o meu ponto mais fraco, nos momentos em que menos esperava.
Tiros certeiros na barragem, naqueles pontos que se propagam em rachadelas ameaçantes, e que um dia se juntam umas com as outras e fazem a água transbordar e inundar todos os vales circundantes.
E de cada vez que a água transborda, o humano constrói a barragem um pouco mais abaixo, para tentar parar e aguentar um pouco mais, mas eventualmente a Natureza reclama o que é seu.
E é isso que eu sinto neste momento, e que senti nas últimas semanas (quiçá meses), sem me ter apercebido ao certo do que se tratava.
De cada vez que a barragem foi abaixo, menos material era usado na barragem seguinte.
Um bocado de mim é arrancado por mim mesmo, para tentar curar um pouco mais rápido a dor, mas isso deixa cada vez menos bocados por arrancar.
E para evitar isso, obrigo-me a parar de sentir, obrigo-me a ser vazio e gelado.
E eu estou farto de estar e ser assim.
Eu não era assim, eu era capaz de sentir algo mais além de vazio e raiva e mágoa.
Eu gostava de poder recuperar o controlo da vida que me foi dada, e que apenas irei ter em meu poder uma vez.
Sei que não posso deixar que a tua perda e a dor da Alma do passado tenham as rédeas sobre mim, mas eu já não sei o que fazer.
Estou deitado desde que cheguei a casa do trabalho, e só quero conseguir desligar e voltar ao que era.
Natureza, podemos fazer isso?
Eu quero, só não tenho energia.
Tu queres, mas também não a tens.
Natureza, deita-te comigo e vamos ficar a olhar para este ecrã os dois...
Pode ser que consigamos.