segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Como Derreter o Gelo

Acho que não gosto de montanhas-russas.

Não posso afirmar isso com certeza porque nunca experimentei andar numa, mas acho que consigo imaginar a sensação.

Andar devagar, depois depressa demais, a seguir parar repentinamente, ficar virado ao contrário, fazer espirais e dar mortais...

Parece-se demasiado com a minha Alma neste momento: se hoje é segunda-feira, parece que trago comigo o cansaço de sexta; se hoje é quinta-feira, na minha cabeça sinto que ainda só é terça...

Tudo está trocado, não sei se hei-de rir, se hei-de chorar, bater com a cabeça numa parede até alguma coisa acontecer, explodir e simplesmente levar tudo à frente... Não sei...

Já não sei para onde me virar, não sei como poderei voltar a ganhar controlo como antes tinha...

A única vontade que tenho é ficar aninhado na cama até o corpo me doer de não me mexer, mas como é óbvio isso não é opção.

Não sei quando fiquei tão sensível ao mundo à minha volta, mas sei que nos últimos tempos qualquer coisa que veja (um filme, uma atitude, qualquer coisa), isso provoca uma reação quase incontrolável em mim de ou quase deixar fluir lágrimas pela cara abaixo ou ter um ataque de fúria ou simplesmente tentar fugir da situação.

Eu não sou assim.

No entanto, essa tem sido a minha vida.

Sinto que passo os dias a queixar-me e também não gosto disso.

Vejo as coisas à minha volta, e não consigo agir, apenas reajo (e nem sempre).

Esta apatia começa a tomar conta de mim, e eu não quero isso, mas também não encontro a faísca em mim capaz de fazer deflagrar a chama.

Tornei-me um cubo de gelo que nunca derrete.

Em vez de fogo interior, criei o oposto, e não sei como voltar atrás.

Continuo a tentar? Tento de outras formas? Paro por completo?

Quem me dera saber...

terça-feira, 10 de setembro de 2019

Amantes e Lutadores

It's a war. This life. The things we endure. [...] The future [...] is an apocalypse. Who survives that? The lovers or the fighters? They tell us this lie that love's gonna save us. All it does is make us stupid and weak. [...] Love isn't gonna save us. It's what we have to save. The pain makes us strong enough to do it. All our scars, our anger, our despair... It's armor. - Legion

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 Uma espada.

Uma parede.

Eu.

Três entidades bem distintas, que quando organizadas de uma determinada forma, resumem o que sinto atualmente.

Olho em volta, e vejo velhos amigos a crescer, muito além da nossa (supostamente) ainda tenra idade.

Casamentos, filhos, empregos estáveis...

Quando é que o tempo começou a andar a esta velocidade? Serei eu a ficar para trás? Ou eles a acelerarem demais?

E o que aconteceu às ligações de outrora? E à facilidade com que elas se criavam e mantinham?

Bah...

É uma grande trapalhada, esta vida adulta, e nunca ninguém me disse com antecedência... Ou se calhar disseram, mas nenhuma medida de tempo é suficiente para nos prepararmos de verdade.

Estes últimos anos, passei-os sozinho, como um lutador, a impedir que esta guerra que domina o mundo chegasse até mim, depois de todos os episódios que vivi, e me despedaçaram.

Mas agora, pensando bem no assunto, questiono-me se não foi a guerra que me passou completamente ao lado, e me deixou a lutar com um boneco de palha, só para me enganar.

E agora que olho em volta, e vejo toda a gente a recolher os despojos da guerra, procuro pelos meus, e nada encontro.

Nem sequer uma amostra, uma ilusão. Nada que indique que eles existem, ou alguma vez existiram sequer.

A dor ataca, e surge de dentro de mim, mas em vez de me fazer forte, como antes achava que estava a fazer, ameaça empurrar cada vez mais a espada contra mim, que estou de costas para a parede.

As cicatrizes doem.

A raiva morreu há muito ou está focada noutras guerras que surgirão em breve.

O desespero já passou também.

A armadura começa a pesar demais, e eu estou fraco dentro dela.

Achava que iria salvar o mundo de alguém nesta guerra...

Agora pergunto-me se não serei eu a precisar de ser salvo...

quinta-feira, 16 de maio de 2019

Sem Amor, Eu

"When you were little, you were so carefree...
But these last few years, more and more, it's almost like I can feel you holding your breath. [...]
There are parts [...] that you have to go through alone. [...]
But you get to exhale now..." - retirado de Love, Simon

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É uma treta quando passamos os dias a suster a respiração.

Acordamos a achar que vai ser melhor, ou no mínimo igual a ontem, e na realidade o peso do vazio adensa-se, mais e mais, e a respiração parece que deixa de ter um fundo.

Por mais que se inspire, nunca se fica verdadeiramente preenchido, e parece que estamos a sufocar ligeiramente.

Só que pior, porque essa sensação na realidade não me acontece nos pulmões.

Acontece algures noutro sítio onde não dá para chegar, e que nunca fica verdadeiramente preenchido, e que pesa mais e mais a cada dia que passa.

E eu ando a arrastar isto há tanto e tanto tempo que já não sei o que mais fazer.

Estou sozinho a lidar com isto, e nunca mais consigo expirar, libertar esta merda desta sensação.

Eu juro que tentei, tentei mesmo, expus-me como achei que não iria fazer mais, e ao fazê-lo trouxe à tona todas estas tretas que tinha enterrado há tantos anos...

E agora, por mais que ignore, chega uma altura da semana em que a sensação espicaça um pouco mais, e me relembra que estou nesta casa sozinho, a morar há ano e meio, sem ninguém com quem verdadeiramente partilhar o meu dia e a minha vida, e este silêncio mata-me.

O silêncio de ter a televisão desligada, e só conseguir ouvir o relógio a contar os segundos sem parar, a madeira a estalar, os aparelhos com estática...

E a minha respiração... sozinha... e presa, sustentada a meio... sem ninguém para me ajudar a terminá-la...

Se tu, que estás a ler isto, souberes como me ajudar, por favor diz-me.

...

Vou dormir por hoje.

Pode ser que amanhã seja um dia menos mau.

quarta-feira, 8 de maio de 2019

Carma Sem Sentido

Sabem o que há de pior quando um dilema existe e persiste?

É quando esse dilema ganha um dilema próprio, e de repente temos ramos e ramos de possibilidades para prosseguir o caminho, e todos eles vão parar a cantos mais escuros que o atual...

É.

Acho que os meus "problemas" ganharam "problemas" próprios.

Depois da última vez que aqui escrevi, disse que sinto falta de um suporte na minha vida, que não faço ideia se existe algures por aí sequer.

E para não ficar de braços cruzados, optei por tentar a minha sorte, e procurar um pouco nas redondezas.

Achei que tinha encontrado.

Os avanços pareceram ter iluminado um pouco o trilho que percorria.

Mas não.

A vida prega rasteiras quando menos se espera, e no mesmo dia todos os pingos de esperança são desfeitos e a pequena luz que parecia existir era só a que estava dentro de mim a quebrar-se.

Posso dizer com um pouco mais de certezas que não existes.

Ou que eu não fui feito para isso.

Tenho um destino traçado, e é continuar nesta solidão infindável.

Sou assim tão detestável?

Quanto mal fiz eu para receber este Carma?

Sou uma pessoa resistente, mas começam a haver alguns limites passados tantos anos.

Custaria assim tanto ter alguma coisa boa de vez em quando?

Mereço assim tão pouco?

O que consigo eu fazer com o que tenho, além de me encolher a um canto e abraçar os meus próprios joelhos até que algo faça sentido?

Sinto-me cada vez mais solitário, e mesmo eu, que gosto de ter o meu espaço e o meu tempo, começo a sentir que é demais...

Se é para isto que estou a viver, que sentido faz?

Pergunto com genuína curiosidade.

Porque para mim já não faz sentido.

Tento dar coisas boas ao mundo, compensar as falhas que às vezes (como tudo o que é humano) tenho.

E recebo coices e pontapés em troca?

Rejeição infinita?

Silêncio como resposta?

Que mal te fiz eu, Mundo?

quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Suporte, Meu e Teu

"There's no such thing as normal [...]

Life is this big, fat, gigantic, stinking mess. But that's the beauty of it too. Whatever you do, I support you.

Either way, you win. And also, either way, there's something that you lose.

What can I say, baby? True love is a bitch." - If I Stay (2014)

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Não sei ao certo o que se passa comigo.

Não estou triste. Não estou feliz.

Estou cansado. Tenho vontade de fazer mais.

Não sou de filmes lamechas nem tristes. Hoje tive que rever um dos melhores filmes alguma vez feitos, o único que alguma vez me tirou uma lágrima.

Há meses que não vinha aqui. É a segunda vez esta semana.

Nestes momentos em que paro um bocado só consigo pensar numa coisa: "Gostava de poder voltar ao normal".

Mas depois penso um pouco mais, e não sei o que é normal para mim. E agora acrescento a isso: "Existe sequer um normal para mim?"

Estou numa fase em que gosto do que faço, sinto-me bem comigo mesmo, mas ao mesmo tempo não consigo aproveitar a vida à minha volta e ser feliz.

E começo a imaginar-me em cenários improváveis. Diria até completamente irrealista.

Imagino o quanto sinto a falta de algo que reneguei completamente em mim.

Imagino como seria ter um suporte ao fim do dia, um daqueles a sério, do tipo que nunca senti realmente, agora que penso nisso.

Um suporte que esteja lá sempre que necessário, incondicionalmente. Um a quem possa retribuir com tudo o que tenho também.

Um que me faça ganhar ou perder, e que no final nada mais importe. Apenas a presença e a existência.

A minha. A tua, quem quer que sejas. Se é que existes.

No fim de imaginar tudo, concluo: "Será que quero sequer mandar-me aos lobos?"

A última vez saí estraçalhado. E ainda tenho pedaços meus por apanhar.

E concluo ainda que o normal a que quero voltar nunca existiu realmente. Porque o meu atual é parte do normal que quero para mim.

E o que falta para o resto do normal está a ser encarcerado por mim, que continua a puxar as rédeas a mim mesmo.

E tenho medo de me deixar ir. De voltar ao Mundo.

De me atirar aos lobos.

Tenho medo.

Não tenho um suporte.

Incondicional. Esporádico. Visível. Não. Não existe nenhum desses.

Devo fazê-lo?

Eu quero. Mas não quero.

Eu sinto que preciso. Mas sinto-me bem assim. Mas sinto-me mal assim.

Sinto sequer? Ou imagino apenas?

Não sei nada.

Sei que não perco e não ganho nada. Sei que a vida é uma treta às vezes, e incrível nas outras, e que pelo meio ando à deriva.

Os remos estão pousados.

Posso pegar num.

Pegas no outro?

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Fantasma do Novo Mundo

Ghosting.

Uma daquelas novas palavras que se usam agora, e que aprendi hoje.

Significa cortar os meios de comunicação com alguém sem aviso prévio, e com máximo desprezo pelas tentativas de restabelecimento de contacto.

Não sou propriamente velho, mas também não é uma palavra que queira incluir no meu vocabulário, mas acho que consigo adaptá-la a minha vida atual, dando-lhe um significado à minha maneira.

Interpreto esta expressão como o sentimento de ficar desconectado de algo, não necessariamente de alguém, intencionalmente, e sem tentativa de estabelecimento de contacto, temporária ou permanentemente.

Porquê a importância deste assunto? Porque é um bocado o que sinto neste momento.

Sinto que o mundo me está a fazer ghosting. As pessoas que me rodeiam me deixam e fazem ghosting até lhes apetecer. Ou se calhar até sou eu que estou a fazer ghosting com tudo à minha volta.

Estou a tentar reconectar-me comigo mesmo há já algum tempo, mas sinto um bloqueio dentro de mim que não consigo desfazer nem explicar. E esse bloqueio tem um vazio, antes e depois dele, e eu não sei de onde ele surgiu.

E não sei sequer porque o bloqueio me incomoda, se nada além de vazio tem para bloquear.

E agora que tenho uma definição para este conceito estranho e intemporal, sinto que isso é parte do problema.

Sinto-me sozinho. Abandonado. Por tempo indeterminado. Desconectado de tudo e todos. Com várias tentativas da minha parte de restabelecer contacto, mas sem obter uma única resposta.

E sinceramente, já não sei para onde lançar mais pedidos.

E eu tentei. Recentemente. Com pouca força, possivelmente, mas tentei.

Acho que não fui claro o suficiente, ou não me quiseram perceber.

Poderei tentar novamente amanhã, num novo dia...

... mas quem irá garantir que não serei outro fantasma desse mundo novo?