segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Sombras das Palavras

Não tenho conseguido adormecer.

Não sei porquê, mas tenho ficado no escuro, de olhos fechados, à espera, enquanto as lágrimas ameaçam cair.

Às vezes até as 7h da manhã. Nunca antes das 5h.

Hoje penso que descobri a razão disso acontecer.

Aparentemente estou a ser assombrado.

Não por fantasmas, esses não me afetam, mas sim pelas coisas que ficaram por dizer.

Nada nos assombra mais do que aquilo que não foi dito.

E mesmo que muitas vezes a solução para um dia em que nada corra bem seja ir dormir, as sombras das palavras perseguem-me.

E eu posso escrevê-las, dizê-las, pensá-las mil e trinta e uma vezes. Mas isso não altera nada, pois tu não as recebeste.

E acabo a minha noite, já de dia, a perguntar-me "quão diferente a minha vida poderia ser se aquela única situação não tivesse acontecido?".

Quereria eu que isso tivesse sido assim?

Não sei...

Acho que estou a viver da forma errada e a ver tudo da perspetiva que não deveria.

Se calhar a vida não devia rodar à volta de evitar hematomas e feridas. Se calhar tudo correu da forma que deveria ter ocorrido, e o objetivo da vida seja apenas colecionar o máximo de cicatrizes possíveis, apenas para demonstrar que aparecemos para as merecer.

E, no entanto, o que eu continuo a querer nem são as cicatrizes, nem as feridas, nem as nódoas negras, nem ficar acordado. Nada disso.

O que eu quero, ainda, e irei continuar a querer, é que a minha coragem seja suficiente para te fazer chegar o que tenho a dizer. E vou fazer isso esta semana, porque não quero mais depender de algo que não quer saber de mim.

Chega de sofrer.

Por isso pergunto: não posso apenas mandar tudo para um certo sítio, e ir dormir descansado?

sábado, 25 de fevereiro de 2017

Labirinto Perfeito

"If only we could be strangers again..." - Beleza Colateral (filme)

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Alguém uma vez disse que nada está verdadeiramente morto, se olharmos para as coisas da forma correta.

Mas será que isso é algo que as pessoas queiram?

Ter algo que nunca morre verdadeiramente pode não ser bom. Pelo menos eu acho que não é.

Sinto todos os dias a dor, algo que nunca mais morre, e que continua aqui dentro, a massacrar-me, a esvaziar-me mais um pouco.

Será que devia estar a olhar de outra forma, de uma maneira menos correta?

Se isso fizesse tudo morrer...

Mas depois, mesmo que tudo isto morresse, será que iria desaparecer da minha vida?

Aposto que não, iria ficar como monumento eterno, algo que faria relembrar para sempre dos negros tempos de agora.

Robert M. Drake escreveu uma vez que "no fim, ela tornou-se mais do que ela esperava. Ela tornou-se na viagem, e como todas as viagens, ela não acabou. Ela apenas mudou de direção e continou."

Concordo plenamente, Robert, mas acho que te esqueceste do resto... Eu acho que o nome com que ficou conhecida deveria ser "Labirinto Perfeito".

Uma confusão tal, que muda de direção constantemente, e que, quando pensas que estás quase na saída, faz surgir uma nova parede a toda a volta, prendendo-te mais um pouco.

E assim, foi-te garantida uma viagem eterna, sem fim, que não te deixa sair.

Com o tempo, as paredes passam a ser naturais para ti, e chega um dia em que já nem te apercebes que elas lá estão.

Até que um dia visitas um dos caminhos do labirinto onde tropeças num dos monumentos que o passado deixou, e bates com a cabeça na parede.

E aí reparas onde estás. E as paredes tornaram-se estranhas para ti. E tu estás a conhecê-las pela primeira vez, outra vez.

E perguntas-te há quanto tempo elas estão ali. E ficas contente porque o teu mundo se tornou ligeiramente diferente.

Mas a realidade é outra, pois a dor que as criou não deixa de existir, simplesmente passou a ser vista de outra perspetiva. E agora parece-te algo novo.

E tu esqueces-te que este é um mundo perito em ilusões.

E que vais cair noutra logo de seguida, ficar contente com isso, e no fim lamentar-te por teres sido estúpido novamente, e continuar o Labirinto Perfeito.

À procura da saída.

Pedaços de Guerra

Como é que isto ainda é possível?

Como é possível teres-me quebrado tão profundamente, ao ponto de agora, ao fim de seis meses, ainda me sentir assim?

Eu não quebro facilmente.

Posso sofrer golpes e ter cicatrizes, mas partir completamente? Não achei que pudesse acontecer assim, e fazer-me sentir tão indefeso.

Achei que poderia cair, mas eventualmente levantar-me com um fogo ainda maior, mas não foi o que aconteceu.

Continuo caído, em pedacinhos impossíveis de colar, sem nada que reste para alimentar uma chama sequer.

E tudo o que eu quero é ouvir-te uma última vez. Ou ver-te a sós. Ou apenas entregar-te as minhas palavras, que estão aqui à minha frente, em papel.

Mas não tenho coragem de ir até aí, e deixar-tas à porta, pois não sei como reagirás a elas. Não sei sequer se olharás para elas.

Sou apenas um concha vazia, um corpo a deambular por aí. Todos os meus pedaços estão no chão, e em vez de me deixarem em paz, seguem-me para todo o lado.

Lembram-me a cada momento do quanto os fizeste brilhar como ouro.

Lembram-se constantemente do quão danificado me deixaram.

Sinto-me como se estivesse perdido no meio de uma guerra, mas sem a vantagem de que numa guerra a sério, provavelmente já não sentiria nada, mesmo que estivesse tão quebrado como me sinto agora.

Será assim tanto pedir que isto termine de vez?

Custa assim tanto pedir que o sofrimento acabe?

É mesmo assim tão difícil largar tudo o que tenho a prender-me?

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Sem Sangue, Preso, Acorrentado

Alguém uma vez disse que se os sentimentos forem mútuos, então o esforço será igual.

Não sei se concordo inteiramente, pois a essa frase acrescento "Se não forem, a dor será bem diferente."

E acredita em mim, Mundo, quando digo que é mesmo.

Poderia ter sido o primeiro dia de muitos. O primeiro "especial", mas que na realidade é igual aos outros, e a que toda gente dá uma importância diferente.

Mas se formos a ver bem, as importâncias são sempre diferentes para tudo, cada pessoa vive os mesmos episódios de ângulos e perspetivas diferentes.

Cada pessoa traz um passado consigo inteiramente complexo que a faz percecionar a mesma situação de formas completamente distintas.

Mas esse passado tem um nome que diz tudo. Chama-se literalmente "passado". É algo que existiu, tendo sido bom ou não, e que não pode ser negado, mas não pode ser "presente" ou "futuro".

Esses são outros cenários, com nomes só para eles próprios.

E, no entanto, o meu passado não me larga, tem-me acorrentado, encarcerado com algemas, correntes e pesos, e ainda com espadas a prender-me à parede.

Por mais que me tente libertar, um deles acaba por me magoar mais e mais.

Faz-me sangrar até nenhuma outra gota de sangue restar.

O pior é que eu sei o que me mantém aqui, o que não me deixa avançar, e ainda me arrasta mais para o fundo.

Chama-se "perdão", e a ação responsável é "não o dar".

Eu queria conseguir, mas tudo o que arrasto comigo faz-me olhar para o que aconteceu entre nós há tanto tempo e não entender nada.

Faz-me ficar cada vez mais confuso, irritado, magoado, em sofrimento.

E mesmo tendo sido culpa de ambos, quando olho para trás, só vejo o quanto me feriste e quantas marcas me deixaste no sítio onde ninguém ia há eternidades.

Estou a tentar perdoar tudo, Mundo. Perdoá-la a ela, perdoar-me a mim, perdoar-te a ti.

Porque não quero mais estas correntes a envenenar-me a Alma e o Coração e a Mente.

Não quero mais acordar, viver e deitar-me com amargura, medo, desgosto e raiva.

Quero perdoar tudo, porque o ódio e a dor são formas alternativas de me prender aqui.

E eu já não pertenço mais aqui.

Por esse motivo, Mundo, fala com o Destino, e deixa-me perdoar-nos a todos, sim?

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Comboios em Viagem

Começo a não gostar dos meus dias.

Tenho muitas distrações, muito para fazer, mas muito tempo para a mente divagar.

E ela não me pede permissão para o fazer.

Não há um dia que não passe que não me faça visitar coisas dolorosas.

É como se todos os dias, sem que eu quisesse, a minha mente se apoderasse de mim,  me levasse para a beira de um precipício no meio do nada, e me obrigasse a ficar lá sentado, à espera que a terra me engula.

Tudo isto porque agora estou a provar do meu próprio veneno, e sinto na pele o que é não obter resposta.

Não fiz por mal, sabes disso... Mas também não me estás a tentar perceber... E em vez disso, estás-me a fazer sofrer novamente.

Provavelmente sem que o saibas, apesar de que eu não acredito nisso...

Alguém uma vez disse que quando se adota alguém ou algo, não se adota apenas essa pessoa ou objeto. Adota-se tudo nela: o mau, o bem. O passado que vem com ela.

Eu tentei sempre suavizar o meu passado para ti, e tu sabes como ele foi intenso e doloroso para mim. E, no entanto, não o adotaste. Eu não senti isso.

E isso custa-me.

Ainda.

Não sei por quanto mais tempo, nem porquê, mas ainda me afeta.

Faz-me sentir como se estivesse a caminhar em cima do meu lado da linha de um comboio, e te visse a andar na outra.

Sempre ali ao lado.

Mas sempre demasiado longe.

Sem nunca cruzarmos caminhos.

Para sempre fora do alcance.

E não sei se o meu próximo passo será o melhor. Sinto que vai piorar a minha situação.

Mas acho que vou ter que o tomar.

E vou ter que deixar as minhas palavras na tua mão um destes dias.

Vou ter que pegar na minha linha de ferro e obrigá-la a mudar de direção.

Se isso provocará um acidente ou não, deixo nas mãos do destino...