Tenho exame final daqui a pouco.
Fecho os olhos.
Vou dormir.
Abro os olhos novamente.
Volto a fechá-los.
Respiro fundo.
Penso numa parede branca.
Concentro-me no meio da parede.
O resto da parede começa a escurecer.
É da minha mente.
Não pára.
Continua a divagar.
Faz-me pensar em tudo.
Faz-me pensar em nada.
Perco a concentração.
A parede já não é branca.
Já não é uma parede sequer.
Foi derrubada, e atrás dela está toda esta cacofonia incessante.
Mas eu já deveria estar a dormir.
Abro os olhos.
Fecho os olhos.
Tapo-me completamente com os lençóis.
Os lençóis são brancos.
Aqui consigo ouvir o bater do meu coração.
O ar a entrar nos pulmões.
Óptimo, vou dormir.
Mas os lençóis deixaram de ser brancos.
Estão contaminados.
A minha mente não pára.
Concluo: será que há algo de errado?
Em mim?
Em todos?
Existe algo sequer?
Ou não existe nada?
A janela está aberta agora.
Ouço os pássaros a começar o seu dia.
Da mesma forma que o meu começa daqui a pouco também.
Gosto.
É relaxante ouvir os pássaros.
E o meu coração.
E o ar nos meus pulmões.
Fecho os olhos.
E fico assim.
A ouvir tudo: os pássaros, o coração, os pulmões, e a cacofonia incessante que vai na minha mente.
Daqui a pouco começa o meu dia.
Vou para o exame final.
Não terei problemas em concentrar-me na parede branca lá.
Irei imaginar o toque dos lençóis brancos sem problemas.
E irei fechar os olhos.
Tenho a certeza que a cacofonia lá estará.
Não vou estar sozinho.
Óptimo.
Seria pior se estivesse.
Nem tudo é mau.